sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

( Bicho de estimação )



Há uma raiva em mim morta por sair, por explodir com todo o meu corpo e mente.
Este bicho aumenta um bocadinho todos os dias e engole-me as entranhas.
Não me quer fazer mal, só quer sair e brincar com a mente de todos os outros.
Por vezes apanha a janela aberta e consegue espreitar, mas a janela é pequena demais. 
Para sair terá que cavar um buraco por si próprio. E isso dói.
Recuso-me a abrir-lhe mais a janela. Talvez por medo, talvez por vergonha. Não quero que saia.

Devora-me, estilhaça-me, destrói-me, corrói-me, e eu ajudo, com tudo o que tenho para dar.
Até ao dia em que não restar nada.

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

( Miudo sonhador )

É incrível, a força com que nos agarramos ao passado. Sinto-me tão ridícula, tão fraca. Por muito que os dias passem, e alguns deles não tenham rasto de ti, acabo sempre por voltar lá. Isto provoca uma mistura de sentimentos, cuja média podia ser a indiferença, mas é tudo menos isso. 
E o pior é que esse passado nem sequer existiu. O que guardo na memória é a esperança de um passado, e não o passado. Ainda assim, esse passado inexistente marcou mais do que devia.
Não sei bem se é isto que me mantém viva ou se é isto que me mata. O que quer que seja, não me larga.
Não me sufoca, mas também não me alivia. 
Passa tanta gente por nós, tanta gente interage connosco... Porque é que não nos podemos sentir completos com o bocadinho que cada uma dessas pessoas partilha connosco? 
Faltas-me tu. E a verdade é que não sei se te quero, mas sei que me faltas.
Falta-me a tua verdade, por muita mentira que se inclua nessa verdade.

(Meu) Miudo sonhador.